“IA paralela” – o uso de inteligência artificial sem consentimento das empresas cresce 188% e traz riscos às corporações
A pesquisa CX Trends 2025 revelou um crescimento alarmante de 188% no uso de inteligência artificial sem o conhecimento ou consentimento das empresas, prática denominada “IA paralela” ou shadow AI.
O levantamento, realizado com mais de 11 mil participantes em 22 países, aponta que funcionários de diversos setores estão recorrendo a ferramentas de IA externas e não aprovadas, expondo as organizações a riscos relevantes de segurança, conformidade e reputação. Entre os setores analisados, a saúde passou de 10% de adesão em 2024 para 33% em 2025, o varejo de 16% para 43% e os serviços financeiros de 14% para 49%, enquanto manufatura e turismo/hotelaria registraram saltos expressivos, atingindo ambos 70% de uso não autorizado. A frequência é igualmente preocupante: 52% afirmam utilizar frequentemente, 41% com muita frequência e apenas 7% raramente.
O uso descontrolado de IA não aprovada pode resultar em vazamento de informações confidenciais, violação à LGPD, infrações à propriedade intelectual, vulnerabilidades cibernéticas e inconsistência no atendimento ao cliente. Mesmo quando a utilização não é autorizada, a empresa permanece responsável por incidentes decorrentes, em razão da responsabilidade objetiva prevista na LGPD. A ausência de políticas claras e de governança de dados evidencia falha no dever de segurança, podendo gerar sanções administrativas e responsabilização civil.
Para mitigar tais riscos, recomenda-se que as organizações implementem governança robusta para uso ético e seguro da IA, com políticas detalhadas, definição de finalidades e restrições, protocolos de segurança da informação, revisão humana obrigatória em processos críticos, oferta de ferramentas oficiais e seguras, além de treinamentos contínuos, monitoramento ativo e aplicação de princípios de privacidade e proteção de dados.
A velocidade com que as tecnologias de IA estão sendo incorporadas ao dia a dia corporativo exige respostas céleres e estruturadas, sob pena de que um único uso indevido desencadeie falhas sistêmicas capazes de comprometer toda a operação. A prevenção, sustentada por governança efetiva e cultura organizacional alinhada à conformidade, é o caminho mais seguro para proteger ativos, dados e a própria integridade das empresas diante desse cenário emergente.
Rafael Souza | Sócio de Di Ciero Advogados